Ir ao Egito era um sonho distante para qualquer pesquisador brasileiro solitário na década de 1970. Era uma época em que não se pensava em Internet, o luxo dos documentários via TV a cabo era inimaginável e a Egiptologia chegava até nós por intermédio de algumas livrarias, pequenos eventos e conversas. O Museu Nacional era um dos poucos lugares de “salvação”.
O fascínio pelo Egito Antigo é algo meio inexplicável, independente do mistério que o cinema e a literatura fantástica têm criado. O que acontece é que somos tocados na alma por alguma coisa. É um momento mágico quando verbalizamos nossa decisão: “É isso que vou estudar!” Em 1976, aos 15 anos, iniciei essa jornada.
Pesquisei muito, li tudo e fiz todos os cursos que podia sobre o tema. Meu fascínio não era a grandeza das pirâmides, mas as práticas religiosas; não era a riqueza dos faraós, mas a vida naquela época e a sua magia. Em 1995, quase vinte anos depois, fiz minha primeira viagem ao Egito.
O fascínio pelo Egito Antigo é algo meio inexplicável, independente do mistério que o cinema e a literatura fantástica têm criado. O que acontece é que somos tocados na alma por alguma coisa. É um momento mágico quando verbalizamos nossa decisão: “É isso que vou estudar!” Em 1976, aos 15 anos, iniciei essa jornada.
Pesquisei muito, li tudo e fiz todos os cursos que podia sobre o tema. Meu fascínio não era a grandeza das pirâmides, mas as práticas religiosas; não era a riqueza dos faraós, mas a vida naquela época e a sua magia. Em 1995, quase vinte anos depois, fiz minha primeira viagem ao Egito.
Olhar as construções milenares no horizonte foi fascinante, e lembro bem que, quando estava diante da Grande Pirâmide, me senti engolido por sua “monumentalidade”. Os livros e documentários não têm como transmitir tamanha magnitude: é preciso estar lá. Dentro da pirâmide, muitas coisas me vieram à mente. Eu a conhecia, sabia onde estava tudo, podia explicar e falar das teorias sobre o monumento e suas câmaras. Mas os livros não fazem com que você sinta o toque na pedra, o frescor do ar, a dificuldade de se locomover, a sensação de grandeza, a atmosfera de paz e de aventura – é inevitável sentir-se um Indiana Jones.
Esta sensação se repetiu em várias partes do Egito. O complexo templário de Karnak – seguindo para Luxor, ao sul – é de deixar qualquer um desconcertado. Não só pela altura das colunas, mas pela dimensão e complexidade da área construída, a quantidade de capelas, templos e obeliscos. É fascinante sentir o clima e a atmosfera locais, que também não podem ser totalmente apreendidos nas fontes tradicionais de estudo.
Visitei sozinho a tumba do faraó Mer-em-Ptah, meu objeto de estudo na época. Ele era filho de Ramsés II e ficou conhecido pela “Estela de Israel”, inscrição na qual cita a conquista dos israelitas. Enquanto descia, via as paredes com figuras e inscrições. É incrível poder ler parte delas e reconhecer divindades e cenas familiares. Estar só, descer dezenas de metros à meia-luz e chegar à câmara do sarcófago foi muito emocionante. Sentei em uma pedra diante do sarcófago e ali fiquei por quase uma hora.
Tentei, na medida do possível, levar estas sensações para os meus estudos e para as minhas aulas. Hoje em dia, em um projeto que estuda Egiptomania – o uso de elementos egípcios em outros contextos, desde a Antiguidade até a modernidade – e Egiptosofia – o uso das práticas religiosas egípcias pela modernidade –, tentamos compreender o fascínio que esta civilização desperta em nossas mentes. Será o mistério das lendas? Esse mistério é gerado pela mídia, pelo cinema, pela literatura ou pela grandeza dos monumentos? Será que existe algo que não conseguimos apreender? Talvez eu ainda esteja querendo encontrar uma resposta para o meu encanto pelo Antigo Egito.
Julio Gralha é professor de História Antiga e Medieval da Universidade Federal Fluminense (UFF-PUCG Campos) e autor de Deuses, faraós e o poder: legitimidade e imagem do Deus dinástico e do monarca no Antigo Egito (1550-1070 a.C.) (Barroso Produções, 2002).
Julio Gralha é professor de História Antiga e Medieval da Universidade Federal Fluminense (UFF-PUCG Campos) e autor de Deuses, faraós e o poder: legitimidade e imagem do Deus dinástico e do monarca no Antigo Egito (1550-1070 a.C.) (Barroso Produções, 2002).
Nenhum comentário:
Postar um comentário